domingo, 27 de setembro de 2009

Treme o lado direito da rua*

Jornais do mundo burguês
abrem-se em manchetes colossais
e do lado esquerdo da rua
o silêncio
---
Do bangalô de luxo um suspiro
um suspiro do senhor do bangalô
e do lado esquerdo da rua
o silêncio
Foguetes ensurdecedores
rasgam o firmamento
em violentas explosões de júbilo
e do lado esquerdo da rua
o silêncio
---
O nome de Deus
pelas caridosas senhoras do soçaite
é pronunciado com emoção
elas agradecem
a salvação dos seus palácios
e suas piscinas ornamentadas
de coxas
seios
e virgindades mortas
e do lado esquerdo da rua
o silêncio
---
A "sagrada" propriedade
privada
da terra ensanguentada
está salva
os senhores da terra
matam bois e carneiros
para a festa antecipada
e do lado esquerdo da rua
o silêncio
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O silêncio
do silêncio surge a "profecia"
"toda noite tem aurora"
quebra-se o silêncio
do lado esquerdo da rua
rompe o sol no horizonte
os raios invadem o lado
esquerdo da rua
a liberdade se anuncia
treme o lado
direito da rua

*Poema de Manoel Coelho Raposo, feito em 1964, durante sua prisão no Quartel do 23º BC, Fortaleza, Ceará.
Manoel Coelho Raposo: propagandista do socialismo (jornal A Nova Democracia, nº 11, julho de 2003).

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