sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Homenagem ao autêntico Partido Comunista do Brasil - P.C.B.*


Eles eram poucos

e nem puderam cantar muito alto

a Internacional

naquela casa de Niterói, em 1922.

Mas cantaram e fundaram o Partido.


Eles eram apenas nove.

O jornalista Astrojildo, o contador Cristiano, o gráfico Pimenta,

o sapateiro José Elias, o vassoureiro Luís Peres,

os alfaiates Cedon e Barbosa, o ferroviário Hermogênio

e ainda o barbeiro Nequete, que citava Lenin a três por dois.


Em todo o país eles não eram mais de setenta.

Sabiam pouco de marxismo

mas tinham sede de justiça

e estavam dispostos a lutar por ela.


Faz algum tempo que isso aconteceu.

O PCB não se tornou o maior partido do ocidente,

nem mesmo do Brasil.

Mas quem contar a história de nosso povo e seus heróis

tem que falar dele.


Ou estará mentindo.

____

*Poema de Ferreira Gullar, de 1982, em homenagem aos 60 anos do autêntico Partido Comunista do Brasil - P.C.B, fundado em 25 de março de 1922. Veja bem, o poema se refere ao autêntico P.C.B., e não a esses PCB e PCdoB revisionistas oportunistas de hoje em dia.

domingo, 27 de setembro de 2009

Elogio do revolucionário*


Quando aumenta a repressão, muitos desanimam.
Mas a coragem dele aumenta.
Organiza sua luta pelo salário, pelo pão
e pela conquista do poder.
Interroga a propriedade:
De onde vens?
Pergunta a cada idéia:
Serves a quem?
Ali onde todos calam, ele fala.
E onde reina a opressão
e se acusa o destino,
ele cita os nomes.
À mesa onde ele se senta
se senta a insatisfação.
A comida desce mal e a sala se torna estreita.
Aonde vai há revolta
e de onde o expulsam
persiste a agitação.
___

*Poema de Bertolt Brecht, dramaturgo e poeta alemão.

Combater a cultura burguesa! Propagandear a cultura popular!

Peça teatral popular retratando a vida dos camponeses

Todas as pessoas, e em especial os jovens, gostam de se divertir: ouvir músicas, dançar, ler livros, ver filmes, peças de teatro, enfim, de todo tipo de atividade cultural.
Mas, o que temos hoje de alternativa cultural para os jovens? Temos músicas que chamam as mulheres de cachorras, potrancas e outros adjetivos degradantes; músicas que colocam a mulher como objeto sexual; danças em que as mulheres ficam seminuas rebolando, numa clara banalização do sexo; filmes enlatados que mostram como é “boa” a vida nos Estados Unidos e por que devemos nos submeter ao imperialismo; filmes que apresentam o povo brasileiro como um povo culturalmente pacífico, além de inúmeras reportagens de televisão que colocam grandes líderes revolucionários como revoltados movidos por causas pessoais e não comprometidos com o bem da humanidade.
Hoje o que há de mais popularizado em termos de meios de comunicação de massas é a televisão. Por isso esta é também a forma mais eficiente de difusão cultural, porque atinge o maior número de pessoas. Assim, a televisão se tornou para a burguesia o principal veiculador de sua ideologia, seus modismos e de toda a decadência e podridão a que chegaram os velhos e reacionários exploradores.
E por que fazem isso?
A ideologia dominante, historicamente, da antigüidade até os nossos dias, é sempre a ideologia de quem está no controle do Estado, quem está no poder. E quem tem o poder do reacionário Estado brasileiro hoje, em nosso país, são a grande burguesia e os latifundiários, classes serviçais do imperialismo. A cultura, como forma ideológica, é reflexo da economia e da política da sociedade e, por sua vez, influi e atua em grande medida sobre estas. Portanto, a cultura que nos é passada hoje, nada mais é do que a cultura das classes dominantes, da grande burguesia e dos latifundiários, produzidas pelas relações de produção desta sociedade. Ao mesmo tempo a cultura também atua e influencia para que essas classes continuem no poder.
Essa cultura que nos é imposta, tem como um de seus objetivos tergiversar e negar a verdadeira cultura de nosso povo, suas raízes, sua história. Tentar barrar nosso ímpeto revolucionário é também um dos nefastos objetivos desta cultura, para que acreditemos na sua ideologia, que justifica a exploração e a opressão; para que não nos revoltemos contra essa situação de miséria em que vive o nosso povo.A cultura da grande burguesia é a cultura imperialista; é a manifestação cultural que contém e justifica idéias escravisadoras; dado que nosso país tem caráter de semi-colônia, principalmente do imperialismo norte-americano. A cultura da classe latifundiária é a semi-feudal, que demonstra cultuar o velho, as velhas tradições e o velho código moral. A predominante e a principal em nossa sociedade atualmente é a cultura imperialista.
A crise capitalista e sua decadência cultural
O capitalismo está em crise, e suas crises são cíclicas. Da mesma forma, as manifestações de cultura desta sociedade também tem voltas e crises. Isso se manifesta na existência dos modismos. Há algum tempo, era axé-music, no estilo “Tchan”, com suas danças da bundinha, e danças da garrafa. A pouco tempo atrás era o forró, que deixando de lado a sua tradição popular, foi totalmente modificado. E agora mais recentemente é o funk que, como todos os ritmos negros, saído dos guetos e favelas é veiculado atualmente como moda, expressando hoje o que há de mais podre nesta cultura que tentam nos impor.
E como as crises do sistema, as crises culturais tendem a ser cada vez pior, cada vez mais podre, mais aprofundado na ideologia de exploração, pois a medida que vai piorando as condições de vida do povo, a grande burguesia busca, mais ainda, na cultura uma tentativa de segurar as massas, para que estam não se libertem toda a sua revolta contra esse sistema e façam revolução. Por isto buscam mostrar que as coisas sempre foram assim e que nunca vão mudar; que sofremos aqui para vivermos bem na outra vida. E sem que percebamos, ao falar que a mulher é burra, que o negro é incompetente e de outras parcelas da sociedade, tenta dividir as forças da classe proletária, pois sabem que desunidos somos mais fracos e temos menos chances de conseguir tomar-lhes o Poder.
Mas ao mesmo tempo em que se aprofunda essa cultura reacionária, da grande burguesia, cria na sociedade uma repulsa, uma resistência crescente e uma série de manifestações contrárias à utilização da imagem da mulher como objeto, à banalização do sexo, enfim, uma tentativa de rompimento com essa cultura que nos é imposta, o que é ao mesmo tempo uma tentativa de buscar a cultura popular.
Utilizando-se das formas populares de expressão em sua podre cultura, a burguesia nos passa uma falsa cultura popular. O que chamam cultura popular hoje não passa de uma variante da cultura da ideologia dominante.
Resgatar a verdadeira Cultura Popular
O que queremos é resgatar a nossa cultura, cultura verdadeiramente popular, que surgiu e se desenvolveu no decorrer de nossa história, de nossa nação, e da luta de classes de todos os países. Esta é muito pouco conhecida; somos privados totalmente dela. Cultura que fala da vida do povo, de sua labuta diária, de nossas batalhas heróicas, de nossas lutas pela transformação da sociedade, dos puros sentimentos humanos – não como mercadorias, sem banalização.
Nosso objetivo vai além de resgatar a cultura popular brasileira; queremos forjar uma nova cultura de nosso povo. Uma nova cultura que seja fruto da ideologia do proletariado, que esteja de acordo com a nova economia e a nova política que propomos para a sociedade. Cultura científica que busque a verdade nos fatos. Cultura das massas para as massas.
A cultura da Nova Democracia é a cultura anti-imperialistas e anti-feudal das massas populares, baseada na aliança operário-camponesa, que combate a cultura reacionária e o imperialismo. Nova cultura que propagandeia a cultura popular e a Nova Democracia.
E, nesse intuito, viemos tendo experiências tanto no teatro quanto na música, de resgate da cultura popular e introdução de uma nova cultura. Nosso trabalho mais recente é a peça teatral chamada “Tão Heróico Destino”, que fala da vida dos camponeses pobres, de sua tomada de consciência, desde o primeiro contato com a organização de luta pela terra; da tomada da terra e de um futuro, nem tão distante, da luta pela tomada do poder. Uma pequena parte desta peça foi apresentada na Assembléia Nacional dos Estudantes do Povo.
Esse trabalho ainda está só começando; convocamos a todos a se integrarem nele. Essa luta é por uma nova cultura, mas vai mais além: constitui uma importante parte na luta pela transformação de toda a sociedade.
___
Retirado do jornal Estudantes do Povo, nº 1. Órgão informativo do MEPR.

Treme o lado direito da rua*

Jornais do mundo burguês
abrem-se em manchetes colossais
e do lado esquerdo da rua
o silêncio
---
Do bangalô de luxo um suspiro
um suspiro do senhor do bangalô
e do lado esquerdo da rua
o silêncio
Foguetes ensurdecedores
rasgam o firmamento
em violentas explosões de júbilo
e do lado esquerdo da rua
o silêncio
---
O nome de Deus
pelas caridosas senhoras do soçaite
é pronunciado com emoção
elas agradecem
a salvação dos seus palácios
e suas piscinas ornamentadas
de coxas
seios
e virgindades mortas
e do lado esquerdo da rua
o silêncio
---
A "sagrada" propriedade
privada
da terra ensanguentada
está salva
os senhores da terra
matam bois e carneiros
para a festa antecipada
e do lado esquerdo da rua
o silêncio
---
O silêncio
do silêncio surge a "profecia"
"toda noite tem aurora"
quebra-se o silêncio
do lado esquerdo da rua
rompe o sol no horizonte
os raios invadem o lado
esquerdo da rua
a liberdade se anuncia
treme o lado
direito da rua

*Poema de Manoel Coelho Raposo, feito em 1964, durante sua prisão no Quartel do 23º BC, Fortaleza, Ceará.
Manoel Coelho Raposo: propagandista do socialismo (jornal A Nova Democracia, nº 11, julho de 2003).

A farsa da "arte pela arte"


Aracaju, 22 de novembro de 1935
Jorge Amado


Hora espessa já chamou um poeta ao momento que atravessamos. E os poetas têm o instinto divinatório. Hora trágica, dolorosa, momento de dúvidas e angústias para todos os intelectuais.
O mundo atravessa um momento essencialmente político. E é conhecida a velha chapa que colocava o artista, o intelectual, o homem de letras, à margem dos acontecimentos políticos. É o conceito célebre da "arte pela arte". O artista trancado na sua clássica torre de cristal que quase sempre não passava de um quarto mal arrumado onde a miséria imperava, a cabeleira romântica caindo sobre os ombros, não se interessava pelos acontecimentos que se desenrolavam cá embaixo no velho mundo de homens sem senso artístico, de homens que lutavam no quotidiano de cada dia pelas renovações políticas e sociais. O conceito de "arte pela arte" desumanizava o artista.
Ele não trabalhava em função da humanidade que se locomovia na terra, a terra das ruas. A realidade era uma coisa que não lhe interessava. O cristal de sua torre tapava-lhe os olhos para o espetáculo dos homens apressados ou tímidos que viviam os poemas, os romances, as epopéias diárias. Fora da terra, longe da humanidade, o artista era o contrário do político. Eram extremos. É certo que alguns homens não acreditavam na verdade do conceito célebre. É certo que alguns homens fizeram a sua arte em função da humanidade e da realidade. Mas ninguém desconfiou sequer que se tratava de gênios. Ninguém quis ver em Shakespeare um descortinador de toda a vida da Inglaterra de seu tempo. Então não passou ele de um teatrólogo vulgar, amado pelas massas, não aceito pelas elites. Foi preciso que se passassem os séculos para que a humanidade visse em Shakespeare um gênio, algo mais que um teatrólogo de mérito discutível. Só a massa, que como os poetas têm o instinto divinatório, compreendeu o gênio inglês. E como todos os gênios, Shakespeare foi um precursor. Acho que não ofenderei os ouvidos de ninguém se afirmar que ele foi um precursor da literatura de classes.
Essas raras exceções que não foram compreendidas, esses raros artistas que tiveram o senso político, que olharam para a humanidade das ruas, dos botequins, das tavernas, dos campos, para a marinhagem dos navios que cruzam o grande mar misterioso, como esse Camões que vale por uma raça, não tiveram o aplauso dos homens intelectuais de seu tempo, porque não cabiam dentro do conceito de "Arte pela Arte".
Essa desumanização da literatura acima da vida, de colocar o artista à margem dos acontecimentos, dominou muito tempo o conceito de arte e ainda hoje gritam por ele todos os que querem combater a literatura interessada, como se hoje houvesse alguma literatura que não fosse interessada.
"Arte pela Arte", bela frase, sem dúvida, para os amantes dos paradoxos à Wilde, esses velhos literatos que pregam a morte pela tuberculose aos vinte anos como preceito estético, literatos que, para nós, filhos de uma hora angustiada, geração essencialmente política, não tem sentido algum, não nos interessam mais que os carros de bois sentimentais que ainda esperam os automóveis para uma aposentadoria decente.
Oscar Wilde é bem o símbolo, é bem o maior representante de todos esses intelectuais desumanizados e inúteis. É o maior de todos eles e hoje em que nos interessa Oscar Wilde, que, no entanto, está tão próximo de nós pela medida do tempo! Excetuando alguns dos seus poemas, exatamente aqueles que a dor humanizou, aqueles que fugiram ao conceito de "arte pela arte" para se tornarem símbolos da dor e da miséria de uma classe de homens, dos artistas, só interessa em Wilde a sua vida escandalosa que é pacto de comentários dos alunos internos de colégios de padres, dos rapazolas de vida sexual regrada e difícil, que se interessam pelo artista inglês como se interessam pelos livros baratos de pornografia. Aquele que quis ser o romancista em Oscar Wilde desapareceu. O que foi ele? Um boneco que se retratou em diversos bonecos. Onde está a vida dos heróis de Dorian Gray?
Símbolo de um conceito, Oscar Wilde acreditou no paradoxo, na mentira, podemos dizer, de "arte pela arte". Fez dessa frase a norma da sua arte e mesmo a norma da sua vida. Não é de admirar. Gênio falso, ele amava as frases, ele adorava a forma. E a forma é o reservatório estanque de todos aqueles que são capazes de criar. Estendendo o conceito, de Oscar Wilde, símbolo, a todos aqueles que acreditam na mentira da frase-norma, podemos dizer que nada nos deixaram, que nada nos legaram, que não foram úteis nem à beleza sequer, porque não pode haver beleza fora do humano, não pode haver deformação artística que produza beleza, que seja obra-de-arte, se essa deformação não se basear na realidade do quotidiano dos homens.
Tomando Oscar Wilde como exemplo, vejamos os heróis dos seus romances. O que se requer de um personagem de romance é que ele tenha vida, que seja humano, que o seu drama, a sua tragédia, a sua comédia, o que quer que seja a sua vida, tenha o dom de nos comover e nos fazer chegar mais perto da humanidade. Nada disso encontramos nos personagens "arte pela arte" de Wilde. E quando digo Wilde, eu tomo como símbolo de toda uma classe de artistas. O que encontramos nestes personagens é belas frases, muitas delas sem sentido, são paradoxos rutilantes, são trabalhos de forma, feitos de propósito para encantar literarelhos desocupados que filam cigarros e café.
É preciso ter a coragem de negar a beleza desses heróis artificiais. A falsificação da vida, a artificialização do homem para servir a um conceito, não pode ser beleza. Aquilo que costumam chamar em Oscar Wilde de Luta, aquilo que nele é ou qualquer reação contra a hipocrisia de uma Inglaterra pervertida e falsamente religiosa, foi uma luta inútil porque ele não foi buscar suas armas como Shalespeare, como o autor das Viagens de Guliver , como Poe, em reação aos Estados Unidos, na realidade. Esses deformaram a realidade. Esses deformaram a realidade para criar a beleza, para lutar contra uma sociedade falsa e cheia de preconceitos. Tirou de si e dos outros homens a humanidade de seus livros, humanidade que atravessou os séculos e vive ainda hoje, Oscar Wilde e os "arte pela arte" começam por criar de si um ser artificial e literário e a imagem deste ser que nada tinha de humano construíram os seus bonecos, fizeram a sua deformação artística. Se um homem a mover um boneco, a falar por ele, não convence as crianças sequer, o que dizer de um boneco a mover um boneco?
Os primeiros foram criadores, escreveram para os homens, mostraram à humanidade a beleza. Os últimos escreveram para bonecos, para uma humanidade que não é a nossa, escreveram para esses meninos que lutam contra a cultura e contra o útil.
Se quisermos ir mais adiante chegaremos com facilidade a negar por completo este conceito que colocava o artista na torre de cristal. A literatura nunca deixou de servir a uma classe. O conceito que era fruto da vaidade dos intelectuais, que os colocava acima das competições humanas, foi sempre de uma falsidade desoladora. O artista e em particular o romancista nunca deixaram de servir a uma classe.
O intelectual fora da humanidade, fora dos anseios, dos desejos, das lutas dos homens, não pode existir, porque a literatura existe em função da humanidade.
Publicado em O Estado de Sergipe Ano III - Nº 773
___